Dia dos pais e os pais de hoje

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Nos tempos atuais ouvem-se muitas críticas ao papel das famílias na criação dos filhos. Há certas conversas que vão inaugurando um desânimo em relação à sociedade contemporânea que pode ser desesperançoso. Mas há necessidade, em muitos momentos, de preservar um tom mais motivado perante a vida. E algo muito animador de se observar é alguma mudança no papel do pai dentro de casa.

É interessante a maior proximidade do homem com a vida emocional de seus filhos que pode ser observada em algumas famílias hoje. O pai brinca com seus pequenos, interessa-se pela vida escolar dos mesmos; quando estes são bebês, ele quer aprender também a trocar as fraldas, a dar o banho, colocar para dormir. A aproximação com o universo doméstico parece não ser mais tão ameaçadora para alguns homens: há uma expansão da provisão financeira para alguma provisão emocional.

Lógico que pai é pai: o portador da lei, da ordem, aquele que instala as regras na mente da criança, que passa seu recado ao pequeno: “Escuta, vamos crescer que a mamãe não é só sua não”. “Mãe é mais permissiva, pai consegue ser mais rígido”, dizem alguns, e isso pode ser muito rico para uma criança que às vezes precisa de leveza e maciez, mas outras de firmeza e dureza. Quem dos dois do casal que desempenhará cada função pode não ser algo tão rígido no dia a dia de cada família: a diversidade que é interessante. O desafio parece ser o de equilibrar proximidade e instalação do limite, a hora do “Sim, venha cá” e do “Não, isso não está certo”. Este desafio é mesmo grande e o caminho vai sendo trilhado nas experimentações do dia-a-dia.

Além da instalação dos limites, o pai pode funcionar como um modelo de identificação para o menino e de “enamoramento” para a menina. “Quando eu crescer quero ser forte como o papai”, diria o pequeno. Já a pequenina: “Meu papai é tão forte, quando crescer quero casar com alguém como ele”. Demora um pouco no desenvolvimento até as imagens dos pais irem se aproximando mais das reais, descortinando a idealização inicial. Mas essa ideia supervalorizada do pai faz parte do crescimento e é muito importante poder se envolver com o progenitor. Para a mãe, então, pode ser necessário dar um passo para trás e permitir esse envolvimento da criança com o pai, como este fez no início da vida do bebê, apoiando a dupla. A relação pai e filho também é palco de rivalidades e desavenças além das identificações e aprendizado. Na briga e no reencontro, vai surgindo a identidade própria do filho.

No Brasil, no mês de agosto, comemora-se o dia dos pais. Comercial ou não a data existe e convida a pensar a respeito. Todo mundo possui um pai, mesmo quando ele é declarado desconhecido, ausente, falecido ou distante. Para se fazer uma nova vida sempre é necessária uma parte feminina e uma masculina, a masculina vem de algum lugar. Se esse lugar não é conhecido, ele é imaginado, criado na mente da pessoa. E também o próprio filho muitas vezes encontra essa função paterna numa outra pessoa: um irmão mais velho, um sogro, um tio ou um avô, que com sua disponibilidade e acolhimento podem proporcionar enormes aprendizados.

Tornar-se pai pode ser uma oportunidade na vida do homem de elaborar a relação com o próprio pai. Perdoá-lo, entendê-lo, conhecer esse novo lugar, essa nova posição, pode render um novo encontro com o próprio pai, seja na realidade ou no pensamento.

Uma grande dificuldade que pode acometer os pais é o crescimento dos filhos. A maior independência e autonomia que eles vão adquirindo paulatinamente podem gerar uma sensação de desvitalização no pai, de não ter mais importância ou utilidade. Por outro lado, também surge a sensação de trabalho cumprido, de colher os frutos de um investimento de uma vida toda, de curtir os netos, quem sabe… E também de aprender um pouco com quem tanto se ensinou.

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